Escola? As aprendizagens aconteceram em Casa

Qual foi a importância da escola em um momento em que as aprendizagens ocorreram dentro de casa?

O ano de 2020 foi marcado pela pandemia, mas mais do que isso, aqui no Brasil, boa parte da população passou grande parte do ano trabalhando em casa, e esse fato mudou completamente a nossa maneira de ver o mundo. 

Como responsável pela parte comercial da nossa escola, recebi de muitas mães e pais interessados em conhecer mais a Teia, a seguinte pergunta:

“E como ocorreu o processo de aprendizagem dos alunos nesse ano?”

Confesso que não foi um ano fácil, mas foi um ano de muitas descobertas, muitos aprendizados para todos, e nesse post venho declarar como esse processo de aprendizagem aconteceu para nós, da Teia, sob a perspectiva de educador:

Como uma escola inovadora, trazemos referências de inovação, ferramentas e estratégias que muitas vezes vêm de outros mercados.

Um exemplo claro disso é a maneira como utilizamos o design Thinking na concepção dos nossos projetos. 

Digo isso porque o primeiro passo que demos quando percebemos a realidade que nos aguardava foi organizar o nosso time em um modelo semelhante ao que podemos chamar de squad. 

Então, dou um passo para trás e digo que pouco antes de entrarmos em quarentena realizamos um mega evento com piscina, bandas de rock, comes e bebes… É estranho lembrar como era a vida até março de 2020. 

Por fim, quando percebemos que entraríamos em estado de calamidade, enviamos um comunicado geral para as famílias dizendo que, para quem fosse possível, que ficasse com os seus filhos em casa nessa semana. 

Primeiros Passos da Aprendizagem em Casa (Online)

A partir disso, com um número reduzido de alunos na escola, pudemos organizar nossa equipe em algumas frentes diferentes para planejarmos a transição para o novo formato. 

Enquanto parte dos educadores ficaram na quadra com alguns alunos que estavam presentes (muitos tinham ficado em casa, estávamos com um número bastante reduzido).

Os demais, grupo que eu pertenci, ficaram na sala LIS (Luz, Imagem e Som) dando início ao nosso processo de planejamento e nova forma de propor a aprendizagem nessa nova realidade que estava por vir. 

Dividimos a elaboração basicamente em três temas (costumamos abrir nossos projetos com perguntas e aqui não foi diferente): 

  • Como transferir o nosso diferencial para o digital? 
  • Qual é o modelo ideal de aulas online? 
  • Quais serão as ferramentas que iremos utilizar? 

Nesse primeiro momento tivemos um foco bastante grande no desenvolvimento das habilidades (conteúdos) obrigatórios nas aulas das áreas comuns (história, geografia, matemática etc.).

Continuamos utilizando a contextualização do projeto, dando sequência nos temas que já estavam sendo desenvolvidos presencialmente. 

As aulas que chamamos de especialidades, na Teia (Yoga, Cinema, Teatro, Empreendedorismo etc.) têm a intenção de desvelar dons, além de serem atividades dinâmicas, para que os estudantes desenvolvam os conteúdos de forma ativa e possibilitem que estabeleçam diferentes maneiras de  interação, inclusive com os seus familiares. 

Desde o início foi importante para nós que os familiares tivessem o mínimo de esforço, para não sobrecarregá-los, já que partimos do princípio que estariam trabalhando em casa, também. 

Como as Famílias devem Apoiar os Filhos no processo de Aprendizagem

No geral, quanto mais novos os alunos, maior a atenção que os familiares teriam que ter com esse acompanhamento, mas a Georgya transmitiu em uma live o seguinte encaminhamento: 

– Os familiares não terão a função de ensinar os seus filhos, essa tarefa cabe aos educadores – a interferência dos familiares no processo de construção de aprendizagem poderia acabar desgastando e até atrapalhando. 

– A função principal dos familiares será a de organizar a rotina e o local. Um espaço de estudo para as crianças, um lugar na casa com espaço adequado, materiais, horário. 

– Uma função secundária será auxiliar os seus filhos nas atividades que requerem mais de um participante ou dar apoio na organização do uso de um material específico. 

Como disse, ocorreram muitas brincadeiras online entre eles e também atividades artísticas divertidas. 

Um exemplo que posso dar, pois eu mesmo fiz em casa com o meu filho e esposa, foi reproduzir uma cena do filme “Tempos Modernos”. 

No caso, Samuel era o Chaplin, eu o operário coadjuvante e a Talita a câmera girl… Foi bem legal! 

Resolvemos realizar adaptações semanais e mudanças estruturais bimestrais, para ir adequando cada vez mais às novas necessidades em nosso novo modelo de ensino-aprendizagem. 

A Georgya Corrêa, idealizadora e diretora pedagógica da Teia, realizou reuniões semanais com as diferentes Turmas (pais, mães, responsáveis nas diferentes configurações familiares), para recolher feedback e apoiar no processo “escola em casa”. 

Ferramentas e Primeiras Impressões sobre a Escola em Casa

Optamos por utilizar as ferramentas Google como suporte, pois era uma opção acessível, rápida, fácil de aprender e suficientemente boa para iniciarmos. 

No decorrer do ano sentimos a necessidade de mudarmos para a Microsoft, empresa que nos tornamos parceiros, mas isso é tema para um próximo post…

Retomando, o feedback inicial foi muito positivo, imagine que na primeira semana que iniciamos já em distanciamento, liberamos na segunda feira um plano de seis aulas por dia, para todas as turmas, semana inteira completa. 

Surgiu um frisson nas redes, muitas fotos e vídeos compartilhados dos alunos se divertindo em casa com os seus respectivos familiares. 

Eu mesmo dentro de casa me diverti bastante, o Samuel estava bastante engajado com as atividades, aquele frescor da novidade. 

Nesse momento as aulas eram totalmente remotas, tínhamos alguns encontros ao vivo, mas eram poucos. 

Utilizamos vídeos, formulários e alguns PDFs. As respostas eram dadas respondendo os formulários e enviando fotos e vídeos. Os educadores retornavam um feedback aos alunos. 

A direção e coordenação durante todo esse processo se manteve muito conectada com as famílias. Como uma escola inovadora temos o compromisso de recolhermos feedback para aprimorarmos o nosso trabalho. 

Colaborando com outras Escolas

Enquanto muitas escolas tinham adiantado férias, ou seja, estavam sem aulas, nós mantivemos o ritmo. Em seguida, eu mesmo selecionei algumas atividades e criei planos de aulas gratuitos para alunos de escolas públicas. 

Foi um processo meio maluco, eu e a professora de arte e minha companheira, Talita, criamos salas remotas com atividades, eu escrevi um texto curto dizendo que estávamos disponibilizando essas aulas gratuitas, com um link de acesso, e disparei para alguns contatos do meu whatsapp. 

Em uma semana atingimos cerca de 500 inscritos, foi um susto (um susto bom, mas foi um efeito meio viral, totalmente inesperado). 

Diversos educadores e gestores escolares entraram em contato pedindo um apoio. Conheci pessoas que viraram minhas amigas no meio dessa quarentena, como por exemplo a Cris, diretora da Escola Guaiauna e da Metodologia Viva

Essa iniciativa acabou originando uma Spinoff de cunho social, a Teia We, que mais tarde se tornou a Asas Educação, mas isso também é assunto para outros posts. 

Foi também no meio disso tudo que dei as minhas primeiras entrevistas, a minha primeira entrevista na vida foi por conta disso, para o “Escolas Exponenciais”. 

Reajustes e Melhoria na Aprendizagem

Voltando, mais uma vez, você se lembra que eu disse que organizamos em ciclos bimestrais? Pois bem, fomos lapidando conforme sentimos a necessidade de fazer isso. 

Após o entusiasmo inicial foram surgindo feedbacks de melhorias. Alguns exemplos de mudanças que ocorreram:

– Mais formulários no formato quiz. 

– Vídeos mais curtos. 

– Menos atividades de registro. 

– Menos remoto e mais ao vivo. 

– Mais compartilhamento de tela. 

Eu também dou aula para o ensino médio, de empreendedorismo, e percebi que isso de compartilhar a tela em aula é muito interessante, e tive a oportunidade de ensinar design e marketing digital de maneira mais técnica para os alunos. 

Enquanto muitas escolas deram as férias em março, adiantamos a nossa para junho, ao invés de julho, pois sentimos que era um bom momento de darmos uma pausa para descanso para todos e realizar algumas reformulações. 

Para nós foi interessante, pois já havíamos tido mais de dois meses de aulas online e pudemos planejar nossas entregas. 

Entendendo a Escola Teia

Afinal de contas, somos uma escola que trabalha por Projetos! Isso significa que, em casa ou na escola, as aprendizagens são desenvolvidas na prática.

Caso você não conheça a Teia, imagine só, todo ano nós realizamos:

– Uma Ciranda com Contação de História. 

– Uma instalação Interativa

– Cinco espetáculos teatrais. 

– Entre dois e cinco espetáculos transmídia.

– Quatro curtas metragens. 

– Três diárias de apresentações de monografias e projetos dos alunos. 

Esses são os nossos produtos finais.

Como agora tudo isso iria acontecer assim, em quarentena (desculpem os jargões, mas agora vou entrar um pouco no pedagogês, conforme for escrevendo o que descreve cada item), precisávamos reorganizar tudo isso.

A instalação não ocorreu, as produções serão aproveitadas como cenários para os espetáculos teatrais, houve a investigação sobre o tema, mas a parte mão na massa teve foco nos espetáculos, pois percebemos que no modelo online “demoraria mais”.

Os curtas metragens e uma das peças teatrais aconteceram! Na verdade foi incrível, imagine os alunos com cenários em suas casas, com toda caracterização!

Gravamos as falas separadamente e juntamos tudo na edição!

No caso da peça do Ensino Médio, em desenvolvimento, a edição está sendo feita pelos próprios alunos do segmento. 

O espetáculo teatral do Ensino Fundamental I e a Ciranda com Contação de História terão que ficar para o ano que vem, está tudo meio que pronto…

Mas não achamos prudente realizar o evento agora, além do que, precisamos ensaiar com todos juntos.

Por mais que já saibam as coreografias, suas falas e estejam fazendo cenários e figurinos, precisamos juntar todas as peças do quebra cabeça. 

Resultados e Percepções

Falando mais sobre a escola e o processo de desenvolvimento das aprendizagens em casa:

As monografias e projetos, que são os TCCs dos nossos alunos (todos do 5º, 9º e 3º do Ensino Médio devem realizar) ocorreram incrivelmente bem!

O evento de apresentação será online, um ponto que pessoalmente considero positivo, pois consigo disfarçar melhor as lágrimas de emoção, (é brincadeira, mas é sério também, ano passado até a minha camisa ficou molhada). 

As investigações online ocorreram muito bem! Principalmente o processo de validação do Ensino Médio, pois as pesquisas presenciais foram substituídas por formulários. 

As produções também! Os alunos do Ensino Médio, no geral, optaram por infoprodutos e ecommerce, assim como um aluno do 9º ano que foi meu orientando, que fez um site de vendas de cursos online. 

Pensando bem, precisarei fazer um post específico sobre essa tema também, citando todos os projetos. Caro leitor, você ficará pasmo! 

E o processo de aprendizagem? E os conteúdos obrigatórios da BNCC? 

Tivemos alunos que ficaram de reforço, eu mesmo tive que ajudar bastante o Samuel (meu enteado) agora, em matemática, para ele não ficar de recuperação. 

Individualidades

Mas como em toda escola e em todos os anos, alguns alunos tiveram facilidade em alguns temas, alguns receberam apoio em casa, outros são bem dedicados (ou têm maior facilidade) com determinadas aprendizagens…

Por outro lado, alguns alunos que demonstravam maior timidez conseguiram interagir bastante no modelo online.

Ainda temos relatos de alunos que preferem o online do que o presencial por acreditarem que tem mais autonomia dessa forma e que conseguiram lidar bem com toda a situação.

Tivemos também alunos que participaram pouco do online, poucos, mas tivemos. 

Também tiveram famílias que decidiram colocar seus filhos em uma escola pública ou mais em conta por questões financeiras.

Por mais estivessem satisfeitos com a escola e que as aprendizagens estivessem sendo desenvolvidas em casa, muita gente teve problemas financeiros em todo país.

Enquanto isso, recebemos alunos novos no meio da quarentena, que nunca vi presencialmente, mas que estão totalmente adaptados e pertencentes. 

Administrativamente foi um ano bem complicado, mas é enfrentando desafios que a gente aprende e cresce, não é?!

E Agora…

De maneira geral, considero que tivemos um ano muito bom! Os professores conseguiram ensinar aos alunos tudo o que é necessário, eu tiro o meu chapéu para a nossa equipe! 

Hoje a escola vive um formato onde as aulas ocorrem ao vivo, cada um em sua casa, por vídeo conferência, e as atividades referentes às aulas ficam na plataforma para os alunos realizarem em papel, fotografarem e enviarem ou preencherem, para que avaliemos suas aprendizagens. 

Toda semana temos algumas atividades extra curriculares presenciais na escola e mais do que o desenvolvimento de aprendizagens cognitivas, a intenção desses encontros é a de os alunos brincarem, interagirem.

Sabemos que muitos estão em casa e sentem falta desse momento presencial. 

Como tudo na vida, podemos ver o copo meio cheio ou o copo meio vazio, tivemos perdas e também tivemos ganhos. 

A minha perspectiva é a de alguém que está em casa, mas que sente muita falta do dia a dia na escola, ao mesmo tempo que continua desenvolvendo aprendizagens, as mesmas que teriam de ser desenvolvidas presencialmente.

Quando digo “a escola” não falo de uma empresa, falo do processo de aprendizagem dos indivíduos que fazem parte dessa comunidade. 

Afinal de contas a escola serve para aprender, não é?! Aliás, pessoalmente acho que essa é a função da vida. E olhem só quantas coisas aprendemos nesse ano!

Seja na escola, seja em casa, de máscara ou sem máscara, quantas aprendizagens que levaremos para a vida toda?

Fico feliz de termos proporcionado momentos divertidos e significativos para nossos alunos, mesmo que não tenha sido fácil para todas as partes.

Um Olhar Apurado

Imagine, temos alunos que foram completamente alfabetizados nesse ano! Ou seja, seres humanos que aprenderam a ler e a escrever em aulas online! 

O meu filho aprendeu MMC e MDC online! Você se lembra disso? Não é muito útil, mas para uma criança de 11 anos é bem difícil (para mim também)!

Aprendemos que é importante termos uma mesa entre nós e a tela, pois algumas coisas só percebemos os malefícios quando temos um contato direto em um curto período de tempo. 

Mas esses malefícios ocorrem quando temos um contato não tão intenso, então eles vão acontecendo aos poucos, o que é bem perigoso. 

Percebemos o quanto gostamos de uma pessoa quando sentimos vontade de abraçá-la e sabemos que não podemos, pelo bem dela, pelo nosso bem, pelo bem de pessoas que nem conhecemos. 

Também percebemos que coisas que parecem pequenas são gigantes, e quando saímos do piloto automático notamos que elas ocupam um espaço enorme em nosso coração. 

 Ainda observei pessoas se mudando e percebendo que a nossa casa é o lugar onde mora o nosso amor. 

E que não necessariamente precisamos estar com uma pessoa para demonstrar e transmitir afeto. Assim como não precisamos estar em uma escola para amá-la.

Pois a escola não é um conjunto de paredes e móveis, a escola é feita de pessoas, de valores, de ideias e ideais. 

A pandemia não é o cenário ideal, mas é o que estamos vivendo, e mais do que nunca, nos sentimos gratos por nos encontrarmos assim, vivos. 

Distantes, mas conectados.

Vida longa a tod@s,

Vida longa à Teia Multicultural. 

Somos um!

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